quinta-feira, janeiro 12, 2012

Sobre o medo e a borboleta













Quando eu era criança, queria ser adulta. Ficava imaginando como seria legal ter dinheiro pra comprar o que eu quisesse (que sonho!), ter um carro (e dirigir), ter a minha casa e decidir como ela funcionaria e qual seria o cardápio do jantar, ter liberdade para ficar até de madrugada acordada, sozinha ou entre amigos, abrir a caixa de correspondência e jogar fora o que não me interessasse, usar salto do tamanho que eu tivesse vontade, enfim, mandar na minha própria vida. Eu só não contava que seria impossível aproveitar cada uma dessas coisas sem passar pelas agruras da vida: as decepções amorosas, as dificuldades financeiras, os pequenos impasses do dia a dia (o pneu que fura, a lâmpada que queima, a pasta de dente que acaba) e os grandes impasses, as perdas, os sonhos não realizados, as oportunidades não aproveitadas, os traumas, os tombos... Ufa!

Quando eu era criança, parecia fácil e divertido ser adulto. Que bom seria se desse para aproveitar as “recompensas” da vida adulta com a inocência infantil. O problema é que para aproveitar essas “recompensas”, carregamos uma carga imensa de responsabilidade. E, pior, com o tempo, nós nos tornamos pessoas mais duras, menos românticas, mal queremos dar bom dia ao vizinho. O dia a dia cansa. O trabalho exaustivo, as contas a pagar, os problemas familiares, o pneu que fura ... Muitas vezes, é difícil achar uma coisa bonita no cotidiano. Nem percebemos que uma borboleta pousou na janela e foi embora. Vamos perdendo a visão de quão interessante e bela pode ser a vida. Medo de arriscar, de se apaixonar, de confiar, de compartilhar, de viver. Temos medo. Ou cautela. Pra mim, dá no mesmo.

O fato é que criança não tem medo nem cautela. Criança vive. Adulto, como eu costumo dizer, é chato. Quantas vezes você não se pegou pensando naquele super problema no meio do filme, no cinema?  Aí o outro, no final, comenta sobre uma das cenas e você nem sabe do que ele está falando. Parece que assistiram a filmes diferentes. Tem dia que é difícil. A gente tem insônia, acorda de mau humor, não quer se apaixonar, nem tomar banho de chuva, discute com o chefe, leva o filho pra emergência por causa de uma dor de garganta. E ainda tem que arrumar tempo pra viver? Missão quase impossível! Veja bem: quase! Porque o problema não é tempo. É o olhar.  O carro, a casa, os amigos que ficam até de madrugada foram conquistados (e isso é bom!). Mas, mais do que isso: a borboleta ainda é tão colorida quanto antigamente, se apaixonar ainda pode dar frio na barriga e, muitas vezes, trocar a chatice de escolher o cardápio do jantar por uma pizza com refrigerante pode ser muito divertido! 

terça-feira, janeiro 10, 2012

Nós somos frutos do meio?





Eu acho que sim. Aí, você me pergunta: “Mas, e as nossas escolhas?”. E eu respondo que elas também são frutos do meio. Dizem por aí que as nossas escolhas são egoístas. Não, não são. Dificilmente somos individualistas o bastante a ponto de pensar apenas em nós mesmos. Cada passo, cada atitude, cada escolha, comumente, tem influência do meio. Somos, como um todo, o que a sociedade espera de nós e não necessariamente (ou nem sempre) o que nós queremos.


Quem nunca teve vontade de abandonar tudo? Ou então de chutar o balde? Pegar a estrada sem rumo? Mandar aquele chefe desagradável (sorry!) à merda? Usar pijama num evento social? Não atender o celular por uma semana? E pasme: tem gente que tem vontade de matar! De verdade! Mas, salvo “loucas” exceções, não fazemos nada disso. Porque não são apenas as nossas vontades que devem ser levadas em conta (Pergunta: quem pensa assim, eu ou a sociedade? Oh, dúvida!). O fato é que nós pensamos no outro, ainda que seja uma só pessoa - um amigo, um filho, um amor, um chefe - o tempo todo.

Então, é como se ficássemos equilibrados (ou tentássemos ficar) em cima da linha tênue que separa agradar aos outros de desagradar a nós mesmos. É uma coisa louca! Umas vezes, cai de um lado, outras, de outro. Fica lá e cá. E faz as escolhas tentando ser justo, tentando não escolher nem azul, nem preto. Ou azul e preto. Não queremos prejudicar ninguém, mas queremos fazer o que temos vontade. No entanto, se for preciso, não fazemos o que temos vontade, afinal, não queremos ficar sozinhos. Porque o ser humano precisa de afeto, de carinho, de aprovação, de companhia. É natural, é para a sobrevivência, é inato. E é por isso que nós somos frutos do meio. Contraditório, não?



terça-feira, fevereiro 13, 2007

Poema de Pensar

"Como é por dentro outra pessoa
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo"



(Fernando Pessoa)